Meus livros

As Viagens de Paulo
2 min readDec 8, 2021

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Tenho pensado no que fazer com os meus livros. Quando eu um jovem meu sonho era ter uma biblioteca. Carimbo na contracapa, Paulo Aprigio Verão de 2006, folha amarelada, esse aqui eu comprei na Travessa da Travessa, lembra do (Pinguim), que saudade de um um bom bunda de fora.

Eu buscava nos livros legitimidade.

Vocês não sabem o que é ser estudante universitário sendo filho da classe trabalhadora. Vocês não sabem.

Os lugares que você não conhece, as músicas que você não ouviu, as exposições que você não visitou, Jesus christ superstar — como assim você não sabe o que é Jesus christ superstar — não é tarefa simples, e olha que eu fiz um curso de licenciatura noturno. Mas isso não me fez escapar do crivo da docente que ao receber uma resposta mais complexa de um estudante de primeiro período questionou se meus pais eram intelectuais, respondi retirantes, alfabetizados pelo Mobral, seu constrangimento só não foi maior que o meu.

Dante, Homero, Maquiavel, Smith, Rousseau, Marx, Kant, Heidegger Bourdieu, Foucault (eu nem sei escrever esse raio de nome), Arednt, Jonas, Revel, Sartre, Kosseleck, Baumann, pra quê? Qual a razão de carregar tantos livros, qual a razão ? Meus livros não me dão legitimidade, meus livros não me tornam o intelectual que sou, o que faço com o que li nos meus livros é dão as cores com as quais me pinto.

Isso sim me veste.

Mas estou cansado, estou cansado de carregá-los.

Talvez seja hora de colocá-los para fora.

Talvez seja hora de vivê-los por dentro.

Talvez seja adora de se desfazer desse peso.

Talvez.

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